quinta-feira, 22 de março de 2018

BDSM: O QUE LEVA UMA MULHER A QUERER SER UMA SUBMISSA?

Uma pergunta interessante, mas talvez fosse melhor respondida por quem já fez o caminho... O máximo que posso lhe dar é a visão de alguém que está de fora do universo da submissão, mas que observa e se alimenta dele.
A primeira coisa que você precisa ter em mente é que a submissão não é algo específico do sexo feminino, assim sendo, poderíamos formular a seguinte questão: o que faz uma pessoa se tornar submissa?
Poderíamos... mas depois de todos esses anos desbravando o universo BDSM, minhas observações me levaram a concluir que parece existir uma certa diferença entre a submissão masculina e feminina. Mesmo assim, só posso falar como um mero observador, já que não vivo esta realidade. Nem a de um homem submisso, muito menos a de uma mulher submissa.
A partir dessas observações, acredito que mulheres heterossexuais e heteroflexíveis têm uma tendência natural à submissão. Se prestarmos atenção, vamos perceber que a maioria absoluta tende a buscar pelo homem mais forte e com a “pegada” mais potente.
Talvez a explicação dessa tendência feminina esteja em nosso comportamento ancestral. Uma vez que, em sua origem e até um passado relativamente recente dentro de sua cadeia evolutiva, os seres humanos se agrupavam em clãs. Ou seja, em geral os grupos familiares eram comandados por um macho alfa. E eventualmente, uma fêmea com características mais dominantes era escolhida por esse macho para ser a sua fêmea alfa. Uma que liderava o grupo em conjunto, mas que também se submetia a ele.
Assim sendo, tal submissão teria nascido do próprio papel da fêmea nessas pequenas comunidades. Enquanto os machos saiam para a caça e atuavam na proteção, as fêmeas cuidavam da infra-estrutura, das crias e da unidade do grupo.
Quase a totalidade das mulheres com as quais interagi ou conversei tinham uma necessidade intrínseca de proteção. De qualquer forma, acredito que uma mulher só irá se submeter (de verdade...) à um soberano que julgue ser o merecedor de sua submissão.
Contudo, tais características muitas vezes ficam mascaradas no mundo baunilha. Sendo um mundo de aparências, cada pessoa usa a armadura que melhor lhe convém. Para quem tiver interesse, apresentei no texto Transição a minha tese sobre a formação do mundo baunilha e da chamada “Compressão Social”, uma conseqüência do advento da civilização e das mudanças ocorridas em nosso estilo de vida ao longo do tempo.
Tais mudanças teriam tornado inviáveis determinados comportamentos humanos. Ou melhor, vários deles continuaram a existir só que uma forma “velada”. Nesse sentido, o que ocorreu foi uma repressão dos nossos instintos e comportamentos básicos, a fim de nos adaptarmos à uma nova realidade social.
Mas a competitividade, a beligerância e a poligamia continuavam ali, embora muitas vezes não fossem visíveis. E o Universo BDSM nasceu justamente da insatisfação de alguns em relação à determinados comportamentos impostos pela sociedade. Pessoas que iam além e que não mais se satisfaziam com que o mundo baunilha podia oferecer, ainda que tivessem passado pelo casamento aberto, pelo swing ou mesmo por fetiches diversos, buscavam por um novo estilo de vida.
Fiz essa viagem pelo pelo Universo BDSM, porque a resposta para a sua dúvida deve passar por esses dois locais... baunilha e BDSM.
No entanto, tanto a submissão quanto a Dominação não são uma questão de querer, mas, sim de ser... ou não ser. (eis a questão). Ambas, são características e não uma opção que escolhemos. Podemos facilmente perceber instintivamente se uma pessoa é, dominante ou submissa. E elas se revelam, líderes ou liderados.
No Universo BDSM é o lugar onde você pode escolher viver completamente a sua natureza Dominante ou submissa (em muitos casos as duas naturezas de forma alternada), podendo também vivê-las de forma pública dentro da comunidade BDSM.
Enfim, o que pode levar uma mulher a querer ser uma submissa é que, descobrindo em si esta natureza e também a existência de um lugar com pessoas onde possa interagir, pode tomar a decisão de viver essa natureza submissa de forma completa, profunda e intensa.



2 comentários:

  1. Posso me equivocar, mas creio que a submissão feminina parta de um sentimento profundo de dependência, ao saber estar só no universo predominantemente masculino, onde as fêmeas estejam automaticamente classificadas em beta. Não raro essas mesmas fêmeas beta demonstram-se mais perfeitas e por isso apreciadas alfas por isso exigindo um tratamento a sua medida e ao seu nível que só machos alfa podem a elas conceder dignamente. Deve-se pensar de início, que este tratamento seja à base da dualidade dor/prazer, que se manifesta com o sexo anal e mais tarde com castigos físicos mais amplos e severos (se lembram do ditado: 'Pancada de amor não dói !!!' Enfim, poucas fêmeas entendem isso claramente, por isso tantos homos prevalecem no pedaço, capazes de sentir menos profundamente a dor e mais o prazer de ser penetrado. LC viver em submissão pode ser uma escolha, mas não raro é uma imposição, planejada pelos pais do/a elemento/a; uso essa palavra, mesmo se erradamente, para clarificar entre uns e outros.

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    1. A Igreja chama de vocação.
      A Psicologia de natural aptidão.
      Nomenclaturas à parte, devemos respeitar e considerar essas diferentes aptidões inerentes à personalidade de cada ser humano.
      Guardadas as devidas proporções, acredito que você conhece ou ouviu falar de pessoas que, num emprego, prefere um chefe "sargentão" porque ele dá a receita do bolo pronta, enquanto um chefe democrático transfere aos funcionários as tomadas de iniciativas, ou seja, elaborar toda receita incluindo ingredientes, dosagens e modo de preparo.
      Através desse viés, nada tem a ver com alfa/beta e nem sentimento de dependência, mas sim de praticidade.

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